Sentença da 2ª Vara da Fazenda Pública da capital também condicionou licitação à elaboração de um Projeto de Intervenção Urbana (PIU) no local. A juíza destacou que, sem estudos prévios, o processo poderia gerar diversos prejuízos ao interesse público.
O Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu que o governo só poderá publicar o edital de concessão do Complexo Esportivo do Ibirapuera após a conclusão dos processos de tombamento do local. A decisão foi tomada após uma ação popular apresentada no final de 2020 pelo jurista Dalmo Dallari e outros interessados contra o governo, a prefeitura da capital e outros agentes públicos responsáveis pelo processo de licitação do espaço esportivo.
A juíza da 2ª Vara da Fazenda Pública da capital, determinou, então, que a licitação só acontecerá:
De acordo com a prefeitura, os PIUs são os estudos técnicos necessários a promover o ordenamento e a reestruturação urbana em áreas subutilizadas e com potencial de transformação na cidade. "Antes de promover a concessão de uso do conjunto desportivo, era necessário verificar, por meio do devido processo administrativo, o valor cultural dos bens que compõem o complexo e respectivos instrumentos de proteção e, após, a viabilidade da intervenção urbana proposta para a área", justificou a magistrada. A juíza destacou também que, sem estudos e deliberações prévios sobre tais questões, o prosseguimento do processo licitatório da concessão poderia gerar diversos prejuízos ao interesse público, "por falta de planejamento e concatenação lógica entre os atos da Administração". Processo de tombamento Em abril deste ano, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental (Conpresp) votou pela abertura do processo de tombamento do Complexo do Ibirapuera, na Zona Sul da cidade. O tombamento abrange o Ginásio do Ibirapuera, o Ginásio Poliesportivo Mauro Pinheiro, o Estádio Ícaro de Castro Mello, o Conjunto Aquático Caio Pompeu de Toledo, o Palácio do Judô, quadras de tênis e prédios de administração. Segundo a nota enviada pela Secretaria Municipal da Cultural, pasta a qual o Conselho é ligado, o assunto será enviado para o Departamento de Patrimônio Histórico (DPH). Em novembro de 2021, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tombou provisoriamente o local. Essa nova ação do Conpresp pode dificultar a privatização do Complexo do Ibirapuera. Iphan Na decisão do tombamento provisório pelo Iphan, Larissa Peixoto, presidente do instituto, certificou que as propriedades do Conjunto Desportivo, a partir da data do tombamento, "não poderão, em caso nenhum, ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de 50% do dano causado". Em nota enviada em 2021, o governo de São Paulo informou que "tomará todas as medidas, sejam elas administrativas ou judiciais, para reverter a decisão publicada hoje pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)". Segundo o texto, o estado considera que não há "qualquer fundamento que ampare o tombamento provisório das instalações do Complexo Desportivo Constâncio Vaz Guimarães (Ibirapuera)". Decisão pode frustrar planos A gestão João Doria (ex-PSDB) planejava construir no local uma arena multiuso coberta para 20 mil pessoas no lugar do estádio de atletismo, erguendo também dois edifícios comerciais no espaço e transformando o atual ginásio do Ibirapuera em shopping center. Com o tombamento, qualquer mudança arquitetônica no espaço fica proibida até que os estudos do Iphan sejam concluídos e o órgão dê um veredito final sobre o valor histórico arquitetônico do complexo, mesmo com a rejeição do tombamento feita pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), em novembro do ano passado. Em maio de 2021, o Iphan realizou uma visita técnica no Complexo do Ibirapuera a fim de dar seguimento ao processo de tombamento do conjunto. Na ocasião, o ex-governador João Doria chamou a decisão do Iphan de “descabida” e disse que o complexo não tem “valor arquitetônico que mereça ser mantido” como está, apenas “valor afetivo”. Carta pública Um grupo de professores e pesquisadores da FAU-USP afirmou que estava “extremamente preocupado” com o destino que a gestão Doria pretendia dar ao complexo esportivo do Ibirapuera. Eles são signatários de uma carta pública aberta à comunidade que deu origem ao movimento chamado "S.O.S Ginásio do Ibirapuera". O grupo criou uma petição online que reuniu mais de 6 mil assinaturas e pediu a preservação do prédio, tal qual ele foi concebido. Também se posiciona contra o projeto do governo tucano de conceder as áreas do complexo a empresas privadas. “O projeto [de concessão], tal como estruturado, representa séria ameaça à integridade física e ao funcionamento de um equipamento esportivo que, além de ser muito utilizado na formação de atletas no Brasil, é constitutivo da história da cidade de São Paulo e realização fundamental da história da arquitetura brasileira. Além disso, tem grandes valores de uso e afetivo pela comunidade esportiva que dele faz intenso uso desde os anos 1950”, diz a carta pública do movimento. Fonte: G1 – São Paulo Link: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2023/05/24/complexo-do-ibirapuera-so-podera-passar-por-concessao-apos-processos-de-tombamento-decide-justica-de-sp.ghtml | ||
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